Você sabe usar o drop-checker?

Você sabe usar o drop-checker?

Eduardo Fonseca Junior

13/09/2018

              Eu recebo com frequência pedidos de ajuda de aquaristas com problemas de nutrição de plantas e surtos de algas. De praxe, a primeira coisa que pergunto é sobre a concentração de CO2 oferecida ao sistema e só então pergunto sobre características de iluminação, fertilização, densidade de flora, etc. A resposta que comumente recebo é “meu drop-checker está verdinho como manda o manual” e essas pessoas quase nunca sabem exatamente qual o pH e o KH de seus aquários. Somente com essas duas informações já posso saber imediatamente como vai a saúde do biofiltro, das plantas e do ecossistema como um todo, mas ao invés de valorizar esses detalhes, muita gente está confiando em recursos que quase nunca sabem usar.

drop checker

Figura 1 – Drop-checker em sua forma clássica indicando concentração supostamente ideal de CO­2.

O drop-checker surgiu quando a injeção regular de CO2 se tornou necessária no aquário plantado. Foi uma ideia genial; era sofisticado, pequeno, bonito e “automático”. Mas também pode ser um grande tiro no joelho quando não se sabe usá-lo da maneira correta e poucos realmente sabem como ele funciona e tampouco conhecem bem suas limitações. É provável que nem mesmo o mercado saiba o que está vendendo e não falo dos lojistas, falo dos próprios fabricantes, pois as recomendações do uso apropriado nunca foram advertidas por eles próprios. Nesse artigo, vamos “decifrar” o funcionamento do drop-checker de maneira a estarmos cientes de seus problemas.

Antes de começar a falar do drop-checker é preciso conhecer uma lei física muito importante inerente aos gases: a Lei da Solubilidade dos Gases (Lei de Henry).

A Lei de Henry diz, basicamente, que todos os gases são solúveis em água. Alguns mais e outros menos solúveis (cada gás possui uma constante de solubilidade em água pura ao nível do mar a 25oC), mas no nosso caso vamos pensar na solubilidade do CO2 em água. A lei diz também que a solubilidade é proporcional à pressão e à concentração do gás na superfície do líquido e inversamente proporcional à temperatura. Isso quer dizer que a presença de um dado gás em água depende da presença e da pressão dele sendo “forçado” na superfície. Quanto à temperatura, quanto mais fria a água, mais o gás consegue penetrar (solubilizar-se) na água, ou, quanto mais quente a agua, mais o gás é expulso (volatilização) para o ar.

Agora vamos pensar na injeção de CO2 no aquário. A injeção constante provoca uma pressão de CO2 na água de forma a forçar a sua entrada e aumentar sua concentração na forma diluída. A atmosfera fora do aquário, no entanto, não possui tanto CO2 assim. Pela Lei de Henry, portanto, sabemos que há um “vazamento” (dessolubilização) do CO2 para o ar na tentativa de uma busca por equilíbrio de pressões. É por isso que num dado momento do fotoperíodo a concentração de CO2 se estabiliza ao invés de subir sem limites o período inteiro. Se o aquário é posto num recipiente fechado, por exemplo, o CO2 que vaza vai acabar encontrando um equilíbrio entre ar e água e daí sim a injeção constante faria a concentração tanto na água quanto no ar do recipiente subir sem limites justamente por não haver mais dissipação.

henry

Figura 2 – Ilustração da Lei de Henry pela demonstração da diferença de pressão.

O drop-checker funciona exatamente como um “medidor de Henry”. A câmara funciona como esse tal recipiente que, por sua vez, solubiliza novamente o CO2 que vazou do aquário para o padrão cromático. Perceba que, pela lei, o CO2 vai sendo transmitido de meio em meio até encontrar um equilíbrio de forma que a concentração de CO2 no drop-checker alcança, depois de um tempo, exatamente a concentração do aquário. Quanto tempo isso leva? Depende das características do drop-checker. Então lá vão algumas propriedades da sua construção:

 

  • Quanto maior a boca do captador, mais gás é “vazado” para a câmara, portanto, mais rápido o tempo de resposta;
  • Quanto menor a câmara, mais rápido o gás “vazado” atinge a pressão necessária para solubilizar no padrão;
  • Quanto menor o volume de ar dentro do drop-checker menos tempo ele demora para se encher de CO2, portanto, mais rápido deve saturar o padrão da câmara;
  • Quanto menor o volume do padrão, mais rápido ele alcança a concentração do aquário.

 

Pensando num drop-checker ideal (tempo de resposta mais rápido), ele seria mais ou menos assim:

 

ideal

Figura 3 – Formato ideal do drop-checker visando um melhor tempo de resposta.

Agora sim podemos falar de seus problemas.

O primeiro problema à vista é o seu tempo de resposta. Alguns drop-checkers sacrificam sua eficiência em prol do design e se tornam indicadores ruins. Prefira os drop-checkers que prezam as características ideais de construção para resultados mais confiáveis.

O segundo problema é a maneira como eles são usados. Normalmente, os drop-checkers são vendidos com padrão em torno de 4 ou 5 KH. Uma vez que a cor alvo do indicador corresponde ao pH 6.8, a concentração de CO2 dissolvida encontrada na tabela fica em torno de 20 ou 25 mg/L, exatamente o que era pregado há 10 anos. Conforme expliquei em detalhes no meu primeiro livro, a concentração do CO2 dissolvido deve estar entre 35 e 45 mg/L para que seja possível corrigir a superestimação da tabela. A forma como o drop-checker é usado, portanto, induz o aquarista ao erro grosseiro de falta de CO2 e fatalmente arruinará o aquário a curto prazo. Então vemos as pessoas correndo contra as algas fazendo todo tipo de receita maluca com fertilizantes, black-outs, algicidas, TPAs de 400% e as plantas indo muito mal.

Seguindo nosso raciocínio, o padrão do drop-checker deveria ter um KH entre 7 e 10 para garantir a leitura correta, indicando concentração de CO2 entre 35 e 50 mg/L. Esse padrão pode ser feito em casa, numa garrafa qualquer, com bicarbonato de sódio. Nem precisa ser água destilada, é só um volume de água com KH padrão que poderá ser usado na manutenção do drop-checker.

Hoje já existe uma marca de drop-checker (não me lembro da marca) que contém uma tabela sobre qual KH deverá ser preparado na câmara em função da concentração de CO2 desejada. Esse fabricante provavelmente deve usar seu próprio drop-checker e, ao ver esse problema, evoluiu seu produto. Quando vi isso fiquei muito feliz.

Agora o terceiro problema: a indicação do padrão é perecível, volátil. Não vou explicar aqui as dinâmicas de transformação do CO2 em água, mas a frequente oscilação de pH, concentração de O2 e CO2 dentro da câmara resultante da alternância entre os períodos de luz e escuro vão fazer com que o KH do padrão seja degradado a CO2 e comece a dar resultados falsos (geralmente para menos). A longo prazo a tendência é que o KH do padrão dos drop-checkers se igualem ao KH do aquário depois de frequentes “viradas”. Mas caso o aquário tenha, de forma muito estável e recorrente, um KH entre 7 e 10 o drop-checker se torna muito mais confiável por muito mais tempo.

A conclusão desse artigo não é de forma alguma condenar o uso dos drop-checkers. Eles são úteis para o aquarista que conhece muito bem seu aquário e já está bem acostumado com suas dinâmicas. Quem usa o drop-checker deve buscar conhecer o seu tempo de resposta e descobrir também a vida útil do seu padrão para somente então começar a confiar nele como ferramenta de apoio e nunca como indicadores definitivos da concentração de CO2. Eles são úteis em aquários grandes com pontos críticos de distribuição de massa de água e em aquários de alto rendimento que não podem cometer deslizes no fornecimento de carbono. Ele ajuda a monitorar o CO2 diariamente, mas jamais deve substituir a prova real dos testes de pH e KH (cruzamento dos valores na tabela).

** O texto acima é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião da Aquabase.