Aquabase e a cultura Wabi-sabi

Desde que conhecemos o Nature Aquarium através da obra do Mestre Takashi Amano, ficamos encantados com a suavidade e a harmonia do seu trabalho. Sem dúvida, nossa inspiração sempre veio das maravilhosas fotos que ilustram os seus livros, matérias da Aqua Journal e pelos sites de aquapaisagismo pelo mundo. IMG_1357

Entretanto, por mais que tentássemos imprimir em nossos layouts a identidade visual e as características principais do Nature Aquarium, percebíamos que o resultado final era sempre muito diferente daquele que esperávamos. Nossas obras, apesar de bem executadas, plantas saudáveis e bonitas, ainda não tinham a harmonia e o equilíbrio natural, eram muito perfeitas, certinhas, bem delineadas… Eram muito bonitas para os padrões ocidentais que estávamos acostumados.

Em 2008 investimos nossas economias e decidimos conhecer a Terra do Sol Nascente, pátria do Nature Aquarium e participar pela primeira vez das festividades do NA Party e da cerimônia de entrega do IAPLC. Foram dias incríveis no Japão, assimilando uma cultura milenar muito diferente da nossa. Conhecer o ADA Gallery, o Mestre Amano, e ter a oportunidade de conviver com aquapaisagistas do mundo todo foram experiências indescritíveis.
Na volta ao Brasil, foram vários meses de encantamento e excitação, com o que fora aprendido e vivenciado. Nos anos seguintes tentamos por em prática o que aprendemos no Japão e sempre conectados a sua cultura e com os ensinamentos do mestre Amano. Com isso nossos trabalhos foram melhorando, se desenvolvendo, mas mesmo assim, ainda não tinham impressos os genes do Nature Aquarium, pois por mais que nos esforçássemos nossos trabalhos eram muito herméticos, com moitas bem delimitadas, sem “nagarê” (fluidez), sem prioridades…ou seja, eram bonitos mas não expressavam uma atmosfera natural.

Então começamos a procurar inspiração na Natureza e a tentar enxergá-la de outra maneira. Nós ocidentais possuímos uma cultura que exige e cobra resultados, objetivos, prazos. É a cultura dos resultados e das coisas óbvias, lógicas. Como se inspirar na Natureza com este tipo de pensamento? Como sentir, se emocionar se apenas olhamos a vida com olhos lógicos e objetivos? Foi então que começamos a perguntar para nós mesmos, porque nossos queridos amigos japoneses e orientais tinham tanta sensibilidade impressa em seus trabalhos e nós não? Foi entendendo como se expressa a cultura oriental que começamos a descobrir o caminho que leva a cultura Wabi-Sabi, ou a arte da imperfeição.

A inspiração que vem da Natureza!

A inspiração que vem da Natureza!

Como ocidentais, seguíamos a lei da nossa cultura, a lei da perfeição, do óbvio e desconhecíamos que a vida é imperfeita, que a Natureza não é simétrica, nem esteticamente perfeita. Justamente o que nos encanta nos trabalhos e layouts é o aspecto Natural, quase imperfeito. Tendo entendido este conceito, partimos novamente para o Japão, em 2010 para participarmos do ADA Party, do ADA Seminar e vivenciarmos mais uma vez a cultura Japonesa e a “arte da imperfeição”. O conceito Wabi-Sabi já estava em nossos corações, e desta vez, o Japão foi mais amistoso, mais familiar. Sentimo-nos em casa, como se estivéssemos em nosso lar.  Participar das festividades da ADA e principalmente do ADA Seminar nos deram suporte e embasamento para trabalhar melhor nossas montagens e aperfeiçoar ainda mais nossas técnicas de aquapaisagismo. Neste mesmo ano, nossos olhos se encheram de encantamento e mergulhamos em paisagens magníficas, exuberantes, nunca antes imaginadas por um ocidental. A beleza da simplicidade, da harmonia, do silêncio… Tudo conspirou para que mudássemos definitivamente nosso modo de enxergar o mundo e começássemos a sentir na alma o que nossos olhos enxergavam.

Por mais dois anos prosseguimos com o nosso trabalho, imprimindo em nossas aulas, palestras e ensinamentos, tudo o que fora visto, sentido e aprendido com a cultura oriental. Foram anos de dedicação, aprendizado e muita conversa acerca da arte Wabi-Sabi.

Com isso nossos trabalhos foram melhorando, fomos conseguindo imprimir algumas características do Nature Aquarium em nossos layouts e a maior prova disto foram os resultados de destaque no IAPLC, onde pela primeira vez conseguimos conquistar um Plate com a 18ª posição de Luca Galarraga na edição 2011 do concurso.

Em 2012 programamos outra viagem ao Japão para participarmos novamente das festividades do IAPLC e do ADA Party, mas principalmente do ADA Seminar, mas por ironia do destino, justamente neste ano o seminar não foi ministrado e no lugar dele, a equipe ADA programou uma viagem para conhecermos as paisagens outonais japonesas da região de Aizu e Urabandai.

Foi a primeira vez que a ADA organizou uma viagem deste tipo e podemos afirmar por experiência própria que foi uma viagem maravilhosa. Pudemos observar o espetáculo das cores do outono japonês através das florestas do Bandai Asahi National Park, da região de Nakatsugawa Valley e Hibara lake.

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Além da agradável companhia dos participantes e da competente equipe de profissionais da ADA, tudo transcorreu perfeitamente bem e nunca mais esqueceremos a riqueza e os detalhes que pudemos presenciar. Nesta viagem pudemos conhecer cenários, sentir sensações e vivenciar a cultura Wabi-Sabi intensamente.

Em todo o Japão, mas mais precisamente em Kyoto, um simples caminhar pelas calçadas é uma verdadeira aula sobre simplicidade, humildade, equilíbrio e harmonia.
Para nós ocidentais, a profusão de detalhes e a riqueza de sentimentos expressos em cada arranjo floral, em cada degrau de pedra, em cada casa, são significativamente importantes para o nosso aprendizado e para a fixação do estilo Wabi-Sabi em nossa mente.

A maioria das construções usam rochas, pedras, madeira, ferro e vidro em sua forma mais natural, com acabamentos simples que valorizam a aparência original dos materiais, diferentemente da nossa cultura que cultua cores, texturas e aparências artificiais, quase que procuram justamente esconder ou maquiar a aparência natural dos materiais.

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O respeito pela natureza quer seja nos parques, jardins ou templos, mas principalmente nos pequenos vasos de bonsais, kokedamas e arranjos que ficam expostos para fora das casas embelezando a fachada e ao mesmo tempo as nossas almas.

Visitar locais sagrados, milenares, onde o tempo compactua com a persistência e o respeito do povo japonês é uma das experiências mais marcantes de toda a nossa vida. Poder vivenciar os jardins de rochas como as do Ryoan-ji temple, ver as florestas de Bambu, os imponentes castelos, lagos, as carpas, templos e pagodes e entender que tudo aquilo está ali a muitos anos, bem mais tempo do que a existência do nosso próprio país é no mínimo espetacular.

As artes são emanadas nesta terra naturalmente, como se tudo fosse resultado de uma inspiração divina ou fruto de um trabalho de extrema sensibilidade e capricho.

Podemos observar isso nas cerâmicas, doces, artefatos de madeira, ferro, nos artesanatos feitos com fibras naturais, bambus, etc. Tudo é fruto de sentimento, de alma, de sensibilidade e como o Wabi-sabi está irraigado há milênios na cultura japonesa, tudo é maravilhosamente imperfeito.

Detalhes mínimos de um país e de um povo que cultua a simplicidade, a humildade e plasmam em tudo o que fazem, o respeito pela natureza, dedicação e sentimento, mostrando para o ocidente que para reproduzir a natureza é necessário se colocar perante ela com humildade e aprender com ela para entendê-la. O estilo Wabi-sabi é olhar com os olhos, sentir com o coração e viver com simplicidade.

Esperamos que a cada visita ao Japão possamos assimilar mais e mais a cultura milenar japonesa da paciência e da contemplação. Tomara que o estilo Wabi-sabi seja incorporado e assimilado pelos brasileiros para que possamos a cada montagem, melhorar nossos conceitos e nos harmonizar com a Natureza.

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Todas as coisas são imperfeitas, todas as coisas são incompletas, nada é eterno.
A beleza wabi-sabi existe naquilo que tem as marcas do tempo a beleza humilde e simples.
A beleza de tudo que não é convencional , dos materiais que ainda guardam em si a sua natureza, a beleza da mudança das estações, das folhas secas pelo chão.

Que possamos viver como o jovem “Sen no Rikyu” e entender que a ação humana sobre o mundo deve ser tão delicada que não impeça a verdadeira natureza das coisas de se revelar. Um velho bule de chá, o verde musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha de tecido rústico, o banco de madeira rústica no jardim, uma única flor solta no vaso…

A Arte da Imperfeição é ver a vida com a tranquilidade de quem sabe que a busca da perfeição é efêmera, pois a perfeição pertence a um mundo imaginário, um mundo humano.

Nós agradecemos ao Nature Aquarium e ao conceito Wabi-Sabi